domingo, 24 de maio de 2009

“Capitalism is dead; long live capitalism.”

No dia 19 de Maio, o Financial Times publicou um artigo de Martin Wolf intitulado “This crisis is a moment, but is it a defining one”?

Nesse artigo, Martin Wolf referiu que a actual crise já revelou até ao momento cinco aspectos importantes, a saber:
- Em primeiro lugar que, quando os Estados Unidos têm problemas económicos graves, estes acabam por se repercutir ao resto do mundo;
- Em segundo lugar, que a crise que vivemos é a mais grave crise económica desde os anos 30 do século passado;
-Em terceiro lugar, que a crise é global, com um impacto particularmente grave em países que se especializaram na exportação de produtos manufacturados, ou que se basearam em importações líquidas de capital;
-Em quarto, que não há memória de se terem lançado antes pacotes de estímulos tão agressivos por parte dos países, para enfrentarem a crise;
-Em quinto e por último, que esse esforço financeiro, está a surtir algum sucesso, devolvendo alguma confiança aos mercados e que, por essa via terá já conseguido atenuar a queda assentuada do abrandamento económico, que se vinha a registar.
Outras certezas resultam do pensamento de Martin Wolf:
“Os USA irá liderar a recuperação económica, sendo que este país é actualmente o mais “Keynesiano do mundo.”
“É plausível que a China, ao ter lançado o seu gigante pacote de estímulos, venha a tornar-se na melhor sucedida economia do mundo”.

No entanto, para o cronista, há pelo menos um grupo de três grandes questões que ainda são desconhecidas:
-Em primeiro lugar, até onde poderão ir os excepcionais níveis de endividamento e a queda de valor líquido afectar o aumento sustentado das poupanças das famílias, que até ao início da crise, tinham um elevado poder de compra?
-Em segundo lugar, por quanto tempo poderão manter-se os actuais défices orçamentais dos estados, sem que os mercados de capitais venham a exigir, uma compensação mais elevadas para o risco?
-Terceiro e último, a partir das suas políticas convencionais, como poderão os bancos centrais definir uma estratégia não inflacionista quando a pressão inflacionista começar a verificar-se?

Que implicações terá a crise para o mapa geoestratégico global?
Ao contrário do que acontece na maioria dos países emergentes que acumulam enormes reservas em moeda estrangeira, no ocidente, os estados estão cada vez mais endividados.
“Rácios de dívida pública para o produto interno bruto parecem vir a duplicar em muitos países desenvolvidos”. “O esforço de consolidação das finanças públicas irá dominar a política orçamental nos próximos anos, talvez décadas. O Estado está de volta, mais interventivo do que gastador.” Segundo o cronista do FT, teremos que esperar pelos proximos anos, para ver como é que o mundo irá lidar com estas questões.

Para já, Martin Wolf considera conhecerem-se à partida, três premissas importantes:
-A primeira é que o ocidente, apesar de tudo tem sabido gerir um sofisticado sistema financeiro, isto apesar dos USA quase terem deitado tudo a perder. Não fora o novo presidente Barak Obama, com uma intervenção moderadora e atenuadora e a reputação americana teria saido ainda mais manchada com os escândalos financeiros que desencadearam a crise.
-A segunda é que os países emergentes, principalmente a China, começa a ocupar um papel central no palco da política mundial.
-A terceiro é que estão a ser feitos esforços para a renovação de organizações mundiais, designadamente através do aumento dos recursos do FMI, conforme estabelecido pelo G20.

Como é que estas premissas irão conjugar-se e influenciar o futuro, ainda será um pouco cedo para se tirarem conclusões, designadamente para perceber se irão verificar-se algumas mudanças radicais na política mundial:
"É provável que a USA continue a sua indispensável liderança na retoma e que a relação entre este país e a China, ir-se-á tornar mais central, com a Índia a vir logo em segundo plano. É também previsível que os dois gigantes asiáticos subam de peso na esfera de influência económica e estratégica mundial. Por outro lado, ao contrário do que se estava à espera no início desta crise, a Europa não tem sido feliz a enfrentá-la. A sua economia e sistema financeiro, revelaram-se muito mais vulneráveis do que se previa."
Verificar-se-á por essa razão uma perda do peso da velha Europa no mapa geoestratégico mundial? É provável que sim.

Quais vão ser as principais consequências de fundo?
“Meu palpite é que esta crise acelerou algumas tendências e revelou outras, especialmente a insustentabilidade do crédito e do endividamento. Muitas delas, têm manchado a reputação do sistema económico, deixando ao mundo um legado amargo”, afirmou Martin Wolf.
Martin Wolf, apesar de tudo, afirma ter a certeza que o mercado financeiro irá recuperar da crise nos próximos anos e que o capitalismo irá sobreviver. “Capitalism is dead; long live capitalism.”
Para bem do futuro da humanidade, esperemos que o sistema se reinvente a si próprio para que, o novo capitalismo venha despido dos erros do passado de modo a impedir que a ganância de alguns, não volte a colocar em causa o futuro colectivo.
Serrone

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