Este foi um dos temas que desenvolvi numa das crónicas do final de Fevereiro. Desde a sua publicação, tenho recebido ocasionalmente algumas comunicações que, embora reconheçam o interesse e a pertinência das ideias expostas, referem não acreditar que alguma vez estas possam ser postas em prática. Segundo estes leitores, os grupos de interesses que dominam o sistema capitalista, procurarão sempre tirar as maiores vantagens económicas/financeiras, minimizando despesas e maximizando o lucro, deixando para segundo plano as questões ambientais e sociais.
Irá ser sempre assim? Se olharmos para a história da humanidade, quase somos levados a concordar que sim. Mas os erros cometidos no passado, trouxeram o planeta ao ponto em que nos encontramos, o mais grave de sempre. O homem tem feito uma péssima gestão dos recursos naturais, pelo que se torna imprescindível aprender rapidamente com os erros do passado e implementar medidas urgentes para poder salvaguardar o que resta destes, para as gerações futuras. Se não se inverter a lógica de desenvolvimento das últimas décadas, a actual trajectória ecológica, demográfica e económica será insustentável e acentuará:
- As mudanças climáticas, extinções de espécies e destruição de funções vitais de suporte à vida.-O aumento do número de habitantes do planeta, principalmente em zonas incapazes de absorver uma população crescente.
-O aumento da pobreza extrema na população mundial. Há pessoas a morrer todos os dias à fome e com doenças, sem receber qualquer benefício do desenvolvimento do resto do mundo.
-A diminuição acentuada da disponibilidade de todos os recursos, com repercussões geopolíticas inimagináveis.
Estes problemas não se resolvem por si mesmo, conforme já deu para perceber com a actual crise. Nenhuma região do mundo ficará de fora, também as mais ricas serão irremediavelmente afectadas. Alcançar metas e resoluções a uma escala global pode parecer impossível, mas é a única saída para evitar o pior. Os desafios são globais e por isso exigem soluções globais. O mundo necessita urgentemente de acordos e atitudes internacionais generalizadas, que sejam capazes de responder aos desafios globais.
Nas próximas crónicas procurarei desenvolver esta temática, abordando com a maior detalhe os problemas ecológicos, demográficos e económicos, suas causas e possíveis soluções. Desta vez pareceu-me interessante tentar explicar como é que estes factores estão inter-relacionados. Vou tentar fazê-lo de uma forma bastante simples: utilizando uma fórmula matemática de fácil compreensão, desenvolvida por P. Ehrlich e J. Holdren em «One – Dimensional Ecology» , Bulletin of the atomic Scientists em Junho de 1972, mas que ainda hoje se mostra adequada e ajustada.
I= P x A x T
Sendo:I - Impacto humano total sobre o ambiente; P – População mundial; A – Rendimento per capita (médio) e T – Impacto ambiental por unidade monetária de rendimento.
A fórmula refere que o Impacto humano sobre o ambiente aumenta quando aumenta a actividade económica total e depende do tipo de tecnologia que está a ser usada.
Em economia, o que define a magnitude da actividade económica mundial é o Produto Mundial Bruto que é igual à multiplicação da População Mundial (P) pelo Rendimento per capita (A), o valor P x A da nossa fórmula. Desde 1950, a população mundial aumentou de 2,5 mil milhões de pessoas para os actuais 6,7 mil milhões, sendo que o rendimento per capita, também tem vindo sempre a aumentar. Estima-se que, desde 1950, o produto económico do mundo tenha aumentado cerca de oito vezes, até aos nossos dias.
Segundo algmas previsões, o crescimento demográfico média até 2050 poderá levará a população mundial até aos 9,2 mil milhões. Se fosse possível manter os níveis de crescimento que se verificavam antes da crise actual, o rendimento per capita aumentaria ainda cerca de quatro vezes, até 2050. A conjugação de ambos os factores, elevaria o Produto Mundial Bruto cerca de 6 vezes, até meados do século XXI.
Até agora falamos do valor P e A da fórmula. Vamos agora perceber melhor o valor T, propositadamente deixado para o fim:
Ao desenvolvermos a actividade económica, com as tecnologias disponíveis no momento, provocamos uma determinada carga ambiental. Utilizamos e poluímos recursos, emitimos gases com efeito de estufa, etc. Digamos que, por métodos matemáticos mais complexos, é possível quantificar o impacto que provocamos no ambiente, por unidade de rendimento obtida no exercício da actividade económica. Este impacto é representado na fórmula com a letra T. Quanto maior for a actividade económica, maior será o valor de T e maior o impacto desta no ambiente.
Pensemos agora no que será o valor inverso de T o qual iremos identificar com a letra S. O inverso de T será 1/T e dá-nos o rendimento que é produzido no exercício da actividade económica, por unidade de impacto ambiental. Como se trata do inverso de T, percebemos facilmente que quanto mais elevado for o valor de S, menor será o impacto nos sistemas naturais. As tecnologias de elevado valor de S, são as tecnologias sustentáveis ou tecnologias limpas.
A fórmula inicial também é conhecida com a expressão:
I=P x A x S,
Sendo S =1/T (Rendimento que é produzido por unidade de impacto ambiental, valor sempre menor que 1).
O conhecido economista Jeffrey Sachs, afirma que o desafio global que é colocado actualmente à humanidade, é conseguir estabilizar o valor de P (população mundial) de forma a não ultrapassar os 8 mil milhões de pessoas em 2050 e investir na sustentabilidade das tecnologias (S), entre as quais se incluem as energias renováveis, captação e armazenamento de dióxido de carbono, a piscicultura sustentável, a irrigação gota a gota, melhores variedades de sementes. Tudo isto maximizando o desejável aumento do Rendimento per capita (A).
“Seguindo esta estratégia, o mundo poderá suportar um aumento do rendimento global sem sofrer uma catástrofe ambiental”.
Serrone