domingo, 31 de maio de 2009

O desafio global


Não podemos evitar o período que se aproxima e que muitos analistas denominam de «Ajustamento Económico» e que eu prefiro denominar «Ajustamento Ambiental, Social e Económico».
Este foi um dos temas que desenvolvi numa das crónicas do final de Fevereiro. Desde a sua publicação, tenho recebido ocasionalmente algumas comunicações que, embora reconheçam o interesse e a pertinência das ideias expostas, referem não acreditar que alguma vez estas possam ser postas em prática. Segundo estes leitores, os grupos de interesses que dominam o sistema capitalista, procurarão sempre tirar as maiores vantagens económicas/financeiras, minimizando despesas e maximizando o lucro, deixando para segundo plano as questões ambientais e sociais.
Irá ser sempre assim? Se olharmos para a história da humanidade, quase somos levados a concordar que sim. Mas os erros cometidos no passado, trouxeram o planeta ao ponto em que nos encontramos, o mais grave de sempre. O homem tem feito uma péssima gestão dos recursos naturais, pelo que se torna imprescindível aprender rapidamente com os erros do passado e implementar medidas urgentes para poder salvaguardar o que resta destes, para as gerações futuras. Se não se inverter a lógica de desenvolvimento das últimas décadas, a actual trajectória ecológica, demográfica e económica será insustentável e acentuará:
- As mudanças climáticas, extinções de espécies e destruição de funções vitais de suporte à vida.-O aumento do número de habitantes do planeta, principalmente em zonas incapazes de absorver uma população crescente.
-O aumento da pobreza extrema na população mundial. Há pessoas a morrer todos os dias à fome e com doenças, sem receber qualquer benefício do desenvolvimento do resto do mundo.
-A diminuição acentuada da disponibilidade de todos os recursos, com repercussões geopolíticas inimagináveis.

Estes problemas não se resolvem por si mesmo, conforme já deu para perceber com a actual crise. Nenhuma região do mundo ficará de fora, também as mais ricas serão irremediavelmente afectadas. Alcançar metas e resoluções a uma escala global pode parecer impossível, mas é a única saída para evitar o pior. Os desafios são globais e por isso exigem soluções globais. O mundo necessita urgentemente de acordos e atitudes internacionais generalizadas, que sejam capazes de responder aos desafios globais.
Nas próximas crónicas procurarei desenvolver esta temática, abordando com a maior detalhe os problemas ecológicos, demográficos e económicos, suas causas e possíveis soluções. Desta vez pareceu-me interessante tentar explicar como é que estes factores estão inter-relacionados. Vou tentar fazê-lo de uma forma bastante simples: utilizando uma fórmula matemática de fácil compreensão, desenvolvida por P. Ehrlich e J. Holdren em «One – Dimensional Ecology» , Bulletin of the atomic Scientists em Junho de 1972, mas que ainda hoje se mostra adequada e ajustada.
I= P x A x T
Sendo:I - Impacto humano total sobre o ambiente; P – População mundial; A – Rendimento per capita (médio) e T – Impacto ambiental por unidade monetária de rendimento.
A fórmula refere que o Impacto humano sobre o ambiente aumenta quando aumenta a actividade económica total e depende do tipo de tecnologia que está a ser usada.
Em economia, o que define a magnitude da actividade económica mundial é o Produto Mundial Bruto que é igual à multiplicação da População Mundial (P) pelo Rendimento per capita (A), o valor P x A da nossa fórmula. Desde 1950, a população mundial aumentou de 2,5 mil milhões de pessoas para os actuais 6,7 mil milhões, sendo que o rendimento per capita, também tem vindo sempre a aumentar. Estima-se que, desde 1950, o produto económico do mundo tenha aumentado cerca de oito vezes, até aos nossos dias.
Segundo algmas previsões, o crescimento demográfico média até 2050 poderá levará a população mundial até aos 9,2 mil milhões. Se fosse possível manter os níveis de crescimento que se verificavam antes da crise actual, o rendimento per capita aumentaria ainda cerca de quatro vezes, até 2050. A conjugação de ambos os factores, elevaria o Produto Mundial Bruto cerca de 6 vezes, até meados do século XXI.
O que estou a tentar demonstrar a todos os nossos leitores é que, a manter-se o cenário de crescimento demográfico e económico dos últimos anos, o impacto humano sobre o ambiente aumentará cerca de 6 vezes até ao ano 2050.
Não será preciso evidenciar os efeitos devastadores que tal acarretaria para o planeta? Basta pensarmos que, já hoje se vive uma situação insustentável sob o ponto de vista ambiental.

Até agora falamos do valor P e A da fórmula. Vamos agora perceber melhor o valor T, propositadamente deixado para o fim:
Ao desenvolvermos a actividade económica, com as tecnologias disponíveis no momento, provocamos uma determinada carga ambiental. Utilizamos e poluímos recursos, emitimos gases com efeito de estufa, etc. Digamos que, por métodos matemáticos mais complexos, é possível quantificar o impacto que provocamos no ambiente, por unidade de rendimento obtida no exercício da actividade económica. Este impacto é representado na fórmula com a letra T. Quanto maior for a actividade económica, maior será o valor de T e maior o impacto desta no ambiente.
Pensemos agora no que será o valor inverso de T o qual iremos identificar com a letra S. O inverso de T será 1/T e dá-nos o rendimento que é produzido no exercício da actividade económica, por unidade de impacto ambiental. Como se trata do inverso de T, percebemos facilmente que quanto mais elevado for o valor de S, menor será o impacto nos sistemas naturais. As tecnologias de elevado valor de S, são as tecnologias sustentáveis ou tecnologias limpas.
A fórmula inicial também é conhecida com a expressão:
I=P x A x S,
Sendo S =1/T (Rendimento que é produzido por unidade de impacto ambiental, valor sempre menor que 1).

O conhecido economista Jeffrey Sachs, afirma que o desafio global que é colocado actualmente à humanidade, é conseguir estabilizar o valor de P (população mundial) de forma a não ultrapassar os 8 mil milhões de pessoas em 2050 e investir na sustentabilidade das tecnologias (S), entre as quais se incluem as energias renováveis, captação e armazenamento de dióxido de carbono, a piscicultura sustentável, a irrigação gota a gota, melhores variedades de sementes. Tudo isto maximizando o desejável aumento do Rendimento per capita (A).
“Seguindo esta estratégia, o mundo poderá suportar um aumento do rendimento global sem sofrer uma catástrofe ambiental”.

Serrone

domingo, 24 de maio de 2009

Economia Comportamental - Previsivelmente Irracional


A capa da edição portuguesa do livro "Previsivelmente Irracional" tem uma pergunta: "Porque é que pessoas inteligentes tomam decisões irracionais todos os dias? A resposta vai surpreendê-lo”.

À luz da economia comportamental, o professor do MIT Dan Ariely explica, com muitos exemplos à mistura, como tomamos decisões e porque somos não só irracionais, mas previsivelmente irracionais ao fazê-lo.

Porque é que decidimos fazer dieta mas desistimos logo que chega a sobremesa? Porque é que compramos tantas coisas que não precisamos e que nunca iremos usar? Nunca lhe aconteceu ler uma ementa num restaurante, ter uma ideia daquilo que queria comer ou beber e acabar por alterar a sua escolha porque ouviu um pedido na mesa ao lado, ou porque resolve seguir o exemplo de quem partilha a mesa consigo? Porque será que um medicamento caro nos faz sentir melhor do que um barato? O custo faz a diferença na forma como nos sentimos? Porque é que temos tanta dificuldade com as opções? Porque sobrevalorizamos o que temos e subavaliamos o que queremos adquirir? Porque não poupamos parte dos nossos salários, como sabemos que devíamos fazer? Porque não resistimos às novas compras? O que é tão cativante no "grátis"? Quem poderia estar interessado apenas numa opção quando, pelo mesmo preço, poderia ficar com as duas? Porque motivo as pérolas são tão caras? Porque gostamos de fazer coisas quando não somos pagos para o fazer? Porque é que o sexo altera o nosso comportamento? Porque somos desonestos sem o reconhecer? Porque ficamos mais honestos quando lidamos com dinheiro?

A todas estas perguntas, Dan Ariely vai dando respostas, explicando as experiências que foi fazendo ao longo dos anos com os seus alunos. Tudo isto à luz da economia comportamental, que o próprio define no livro como "um campo relativamente novo que aborda aspectos simultaneamente psicológicos e económicos". E é assim que tenta compreender o comportamento humano e a forma como se processam as nossas decisões. Chega à conclusão, por exemplo, que a teoria da economia convencional de que os preços resultam de um equilíbrio entre duas forças - a oferta e a procura - é uma "ideia elegante", mas assenta num pressuposto errado: o de que as duas forças são independentes. Na verdade, diz, o valor que as pessoas estão dispostas a pagar é facilmente manipulável.

Neste artigo, pretende-se salientar alguns dos aspectos mais relevantes do livro, não se devendo no entanto dispensar a sua leitura integral, a qual aconselho vivamente.
“A economia convencional pressupõe que somos racionais, que conhecemos todas as informações pertinentes às decisões que tomamos, que podemos calcular o valor das diferentes opções que analisamos e que estamos cognitivamente desimpedidos para ponderar as ramificações de cada potencial escolha.
O resultado é a presunção de tomarmos decisões lógicas e sensatas. Mesmo que tomemos uma decisão errada de vez em quando, a perspectiva da economia convencional sugere que aprendemos rapidamente com os erros, quer por modo próprio, quer pela ajuda das «forças de mercado» Com base nestas premissas, os economistas deduzem conclusões muito profundas sobre tudo, desde tendências de moda a leis políticas públicas.
Mas, como demonstraram os resultados apresentados no livro, somos muito menos racionais a tomar decisões do que a economia convencional pressupõe. Os nossos comportamentos irracionais não são aleatórios ou erráticos, mas previsíveis e sistemáticos. Todos nós repetimos constantemente o mesmo tipo de erros, devido ao modo como funciona o nosso cérebro. Logo, não seria bom alterar os padrões da economia e afastarmo-nos de uma psicologia ingénua, que falha muitas vezes nos testes do raciocínio, introspecção e, mais importante, de escrutínio empírico?
Não faria mais sentido se a economia se baseasse na forma como as pessoas realmente se comportam, em vez de como se deveriam comportar? Esta simples ideia é a base da economia comportamental, um campo de estudo emergente focalizado no conceito (bastante intuitivo) de que as pessoas sempre se comportam racionalmente e que muitas vezes se enganam nas decisões que tomam.
Não é agradável constatar que tomamos continuamente decisões irracionais nas nossas vidas pessoais, profissionais e sociais. Mas há uma luz de esperança, pois o facto de cometermos erros também implica que podemos sempre melhorar as decisões que tomamos e que, portanto, temos oportunidade para «borlas». Uma das principais diferenças entre a economia convencional e a comportamental tem a ver com este conceito de «borlas». Segundo a primeira, todas as decisões humanas são informadas e racionais, motivadas por um conceito apurado do valor dos bens e serviços e da quantidade de felicidade (utilidade) que têm probabilidade de gerar. Com este conjunto de premissas, todas as pessoas no mercado tentam maximizar o seu lucro e esforçam-se por optimizar as suas experiências. Consequentemente a teoria económica determina que não existam almoços de borla. Se houvesse, alguém já teria extraído o seu valor.
Por outro lado os economistas comportamentais acreditam que as pessoas são susceptíveis às influências irrelevantes que as rodeiam (a que se chama efeitos de contexto) às emoções irrelevantes, à falta de perspicácia e a outras formas de irracionalidade (para mais exemplos consulte cada um dos capítulos do livro)
Quais as boas novas que acompanham este entendimento? É que os erros também proporcionam oportunidades para melhorar. Se todos cometemos erros sistemáticos nas decisões, então porque não desenvolver novos métodos e estratégias que nos ajudem a melhorar as decisões e a aumentar o nosso bem-estar geral?
Segundo a perspectiva da economia comportamental, os almoços à borla significam exactamente isso, a ideia que existem instrumentos, métodos e políticas para nos ajudarem a decidir melhor e, consequentemente, a alcançar o que desejamos.
Da perspectiva da economia comportamental, o potencial dos «almoços à borla» reside nos novos métodos, mecanismos e intervenções que ajudassem as pessoas a alcançar mais do que verdadeiramente desejam e de proporcionar mais benefícios do que custos a todas as pessoas envolvidas.
O livro descreve ao longo dos capítulos uma força (emoções, a realtividade, as normas sociais) que influencia o nosso comportamento. Essas influências exercem muito poder no comportamento, mas a nossa tendência natural é subestimar grandemente ou mesmo ignorar esta força. Elas afectam-nos, não por nos faltarem os conhecimentos e a prática, ou por sermos fracos, pelo contrário, elas afectam continuamente tanto especialistas como principiantes de formas sistemáticas e previsíveis. Os erros consequentemente traduzem-se no modo como vivemos a nossa vida e como trabalhamos. Fazem parte de nós.
As ilusões visuais também servem aqui de exemplo. Tal como não conseguimos evitar sermos enganados por elas, também cedemos às «decisões ilusórias» que a mente nos oferece.
A questão é que os nossos ambientes visuais e de decisão são uma filtragem de cortesia dos nosso olhos, ouvidos, olfacto, tacto e, o grande mestre, o nosso cérebro. Quando falamos de compreender e digerir a informação recebida, não é forçoso que ela traduza fielmente a realidade. Será mais uma representação desta e é essa a informação que que nos baseamos para decidir seja o que for. Em essência, estamos limitados aos instrumentos com que a natureza nos dotou e o modo natural como decidimos é limitado pela qualidade e precisão desses instrumentos.,
Um segunda premissa importante é que, apesar da irracionalidade ser um lugar comum, isso não implica necessariamente que sejamos indefesos. Depois de entendermos como e quando tomamos decisões erróneas, podemos tentar ser mais vigilantes, forçar-nos a pensar nelas de maneira diferente ou utilizar a tecnologia para ultrapassar as nossas falhas. Também aqui os empresários e legisladores podiam rever os seus raciocínios e reconsiderar os seus modelos de acção, de modo a proporcionar almoços de borla.”
Um livro imperdível que exige um estudo e uma reflexão mais profunda, para que no futuro possamos todos melhorar as nossas decisões particulares enquanto consumidores e, também profissionais, enquanto líderes de organizações.

“Capitalism is dead; long live capitalism.”

No dia 19 de Maio, o Financial Times publicou um artigo de Martin Wolf intitulado “This crisis is a moment, but is it a defining one”?

Nesse artigo, Martin Wolf referiu que a actual crise já revelou até ao momento cinco aspectos importantes, a saber:
- Em primeiro lugar que, quando os Estados Unidos têm problemas económicos graves, estes acabam por se repercutir ao resto do mundo;
- Em segundo lugar, que a crise que vivemos é a mais grave crise económica desde os anos 30 do século passado;
-Em terceiro lugar, que a crise é global, com um impacto particularmente grave em países que se especializaram na exportação de produtos manufacturados, ou que se basearam em importações líquidas de capital;
-Em quarto, que não há memória de se terem lançado antes pacotes de estímulos tão agressivos por parte dos países, para enfrentarem a crise;
-Em quinto e por último, que esse esforço financeiro, está a surtir algum sucesso, devolvendo alguma confiança aos mercados e que, por essa via terá já conseguido atenuar a queda assentuada do abrandamento económico, que se vinha a registar.
Outras certezas resultam do pensamento de Martin Wolf:
“Os USA irá liderar a recuperação económica, sendo que este país é actualmente o mais “Keynesiano do mundo.”
“É plausível que a China, ao ter lançado o seu gigante pacote de estímulos, venha a tornar-se na melhor sucedida economia do mundo”.

No entanto, para o cronista, há pelo menos um grupo de três grandes questões que ainda são desconhecidas:
-Em primeiro lugar, até onde poderão ir os excepcionais níveis de endividamento e a queda de valor líquido afectar o aumento sustentado das poupanças das famílias, que até ao início da crise, tinham um elevado poder de compra?
-Em segundo lugar, por quanto tempo poderão manter-se os actuais défices orçamentais dos estados, sem que os mercados de capitais venham a exigir, uma compensação mais elevadas para o risco?
-Terceiro e último, a partir das suas políticas convencionais, como poderão os bancos centrais definir uma estratégia não inflacionista quando a pressão inflacionista começar a verificar-se?

Que implicações terá a crise para o mapa geoestratégico global?
Ao contrário do que acontece na maioria dos países emergentes que acumulam enormes reservas em moeda estrangeira, no ocidente, os estados estão cada vez mais endividados.
“Rácios de dívida pública para o produto interno bruto parecem vir a duplicar em muitos países desenvolvidos”. “O esforço de consolidação das finanças públicas irá dominar a política orçamental nos próximos anos, talvez décadas. O Estado está de volta, mais interventivo do que gastador.” Segundo o cronista do FT, teremos que esperar pelos proximos anos, para ver como é que o mundo irá lidar com estas questões.

Para já, Martin Wolf considera conhecerem-se à partida, três premissas importantes:
-A primeira é que o ocidente, apesar de tudo tem sabido gerir um sofisticado sistema financeiro, isto apesar dos USA quase terem deitado tudo a perder. Não fora o novo presidente Barak Obama, com uma intervenção moderadora e atenuadora e a reputação americana teria saido ainda mais manchada com os escândalos financeiros que desencadearam a crise.
-A segunda é que os países emergentes, principalmente a China, começa a ocupar um papel central no palco da política mundial.
-A terceiro é que estão a ser feitos esforços para a renovação de organizações mundiais, designadamente através do aumento dos recursos do FMI, conforme estabelecido pelo G20.

Como é que estas premissas irão conjugar-se e influenciar o futuro, ainda será um pouco cedo para se tirarem conclusões, designadamente para perceber se irão verificar-se algumas mudanças radicais na política mundial:
"É provável que a USA continue a sua indispensável liderança na retoma e que a relação entre este país e a China, ir-se-á tornar mais central, com a Índia a vir logo em segundo plano. É também previsível que os dois gigantes asiáticos subam de peso na esfera de influência económica e estratégica mundial. Por outro lado, ao contrário do que se estava à espera no início desta crise, a Europa não tem sido feliz a enfrentá-la. A sua economia e sistema financeiro, revelaram-se muito mais vulneráveis do que se previa."
Verificar-se-á por essa razão uma perda do peso da velha Europa no mapa geoestratégico mundial? É provável que sim.

Quais vão ser as principais consequências de fundo?
“Meu palpite é que esta crise acelerou algumas tendências e revelou outras, especialmente a insustentabilidade do crédito e do endividamento. Muitas delas, têm manchado a reputação do sistema económico, deixando ao mundo um legado amargo”, afirmou Martin Wolf.
Martin Wolf, apesar de tudo, afirma ter a certeza que o mercado financeiro irá recuperar da crise nos próximos anos e que o capitalismo irá sobreviver. “Capitalism is dead; long live capitalism.”
Para bem do futuro da humanidade, esperemos que o sistema se reinvente a si próprio para que, o novo capitalismo venha despido dos erros do passado de modo a impedir que a ganância de alguns, não volte a colocar em causa o futuro colectivo.
Serrone

domingo, 17 de maio de 2009

Será que percebi? Não, nem por isso, mas vou explicar na mesma...


O governo português divulgou esta semana, o cenário macroeconómico para 2009. Depois das previsões enunciadas pelo Banco de Portugal e do FMI, Teixeira dos Santos, sem nos surpreender por isso, mostrou-se mais optimistas que aquelas instituições.

Há razões para o ministro estar mais optimista que o Banco de Portugal e que o FMI? Porquê esta reincidência do governo em atenuar os cenários negativos?

Todos sabemos que na base da estratégia do governo, ao divulgar índices macroeconómicos mais altos que o Banco de Portugal e o FMI, objectivamente encontram-se razões de natureza política: Aproxima-se um calendário eleitoral exigente, com três eleições sucessivas e o partido do governo tem como objectivo sair vencedor em toda a linha. Divulgar os índices macroeconómicos mais baixos dos últimos trinta e cinco anos, ainda que supostamente justificados pela ocorrência da maior “crise económica e financeira global das nossas vidas”, compreensivelmente não se deve constituir, por si só, uma tarefa agradável para o ministro.
Mas a explicação dada por Teixeira dos Santos, é que os números divulgados pelo governo são diferentes porque beneficiam de informações mais actualizadas, dando como exemplos destas, algumas elações, decorrentes de afirmações proferidas pelos responsáveis do BCE e da FED, de que existem sinais indiciadores da aproximação do ponto de viragem da crise económica mundial.

Haverá sinais de retoma na economia mundial, como afirmam os presidentes do FED e do BCE?

Alguns analistas confirmam que o declínio económico dá sinais de abrandamento e asseguram que grande parte do sistema finaneiro estará a sobreviver à crise. No entanto, consideram prematuro e ainda sem sustentabilidade credível, antecipar previsões sobre o ponto de viragem. Percebe-se que a acção concertada dos presidentes do BCE e do FED, tiveram como objectivo claro e também compreensível, fornecer ao mercado expectativas positivas, para que se criem as condições necessárias à restituição da confiança.
Uma das tarefas que cabe aos bancos centrais é promover a confiança e o aumento da produtividade em tempo de crise. Como? Convencendo os agentes económicos a inverter a espiral descendente: À medida que os consumidores preocupados com o futuro vão decidindo poupar mais dinheiro e gastar menos, as empresas reduzem o investimento, produzem menos e vão despedindo trabalhadores. O desemprego crescente deprime o rendimento, o que faz diminuir ainda mais a procura, continuando assim a espiral descendente. Há por isso a necessidade imperiosa de contrariar esta tendência, de modo a invertê-la.
No caso de Portugal, a espiral não será invertida nem com números dados por Teixeira dos Santos, nem com expectativas vindas do Banco Central Europeu. Portugal é uma economia aberta, com uma dependência externa crescente e com problemas estruturais profundos, sendo que o governo, na actual conjuntura internacional e no contexto da UE, não dispõe nem de recursos, nem de mecanismos suficientes para agir.
Para sermos justos, temos que reconhecer a impotência instrumental do governo actuar com eficácia junto da economia: Para além de dar apoios sociais às vítimas da crise (os desempregados) e manter algum investimento público, procurando manter sustentáveis os principais índices macroeconómicos, pouco mais poderá fazer, sem que, antes se verifique, a recuperação económica do resto do mundo, do qual dependemos.
Um dia, quando finalmente se verificarem as condições vindas do exterior, para o início da recuperação económica do nosso país, será extraordinariamente relevante o estado em que estiverem não só as finanças públicas da nação, mas também a credibilidade externa da economia portuguesa. Por isso a minha preocupação aumenta face ao crescente agravamento do cenário macroeconómico dos últimos meses e à possibilidade deste se acentuar, devido a eventuais pressões eleitoralistas dos próximos tempos.

Cenário Macro para 2009 divulgados pelo governo
-PIB: -3,4% em 2009, contra 0% em 2008. Sendo que -1,4% do consumo, -14,1 do investimento, -11,8% das exportações e -11,1% das importações.
- Défice orçamental: 5,9% do PIB previstos para 2009 contra 2,6% do PIB em 2008;
-Dívida pública: 74,6% do PIB em 2009, contra 66,2% do PIB em 2008;
-Desemprego: cerca de 9% em 2009, contra cerca de 7,6% em 2009;
-Inflação: 0,1% em 2009, contra 2,6% em 2008.
Serrone