domingo, 12 de abril de 2009

Escreveram esta semana


Joseph E. Stigliz, prémio Nobel da Economia, actual presidente da comissão de peritos da Organização das Nações Unidas (ONU), mencionou estar de acordo com muitas das iniciativas do G20, mas que uma crise global exigia medidas mais globais: “Infelizmente, cada país vai delinear pacotes de estímulo, com impacto essencialmente nacional e não global, medidos em função do orçamento de cada um e dos benefícios que o crescimento e o emprego possam vir a ter na sua economia. Ou seja, serão menos abrangentes e eficazes que o necessário.” Segundo Stigliz, impunha-se avançar com um pacote de estímulo coordenado globalmente.
Martin Wolf, escreveu esta semana no Financial Times que a última cimeira do G20 não irá contribuir para a retoma da economia sustentável. Na sua óptica foram apenas alcançados dois objectivos: um deles prende-se com o diálogo conseguido entre as potências que é positivo para minimizar a ocorrência de guerras e o segundo, com a disponibilidade de recursos ao Fundo Monetário Internacional que, se forem efectivamente disponibilizados, talvez possam vir a ajudar a sobreviver as economias emergentes mais afectadas pela crise.
Wolfgang Munchau, Editor Associado do Financial Times, no dia 5 de Abril afirmou que a cimeira de Londres não conseguiu aquilo que se propunha e que nenhuma das suas resoluções aproximará o mundo um passo que seja da solução económica global. “Os líderes mundiais mostraram-se mais interessados em evitar crises futuras do que resolver a crise actual.”
Esta semana, estes três brilhantes economistas vieram confirmar as opiniões que formulei na crónica anterior, logo após o término da cimeira do G20. Não sendo eu economista, não posso deixar de me congratular por esse facto.
Sem pretensiosismo e com a humildade que é preciso ter para opinar sobre questões tão complexas, deixo-vos um resumo de algumas das minhas ideias que desenvolvi nas últimas crónicas, de forma retrospectiva à data de 14 de Fevereiro, as quais considero relevantes para reflexão:
4 de Abril de 2009 – “Alguns Passos...”
Face à gravidade dos problemas financeiros, económicos, sociais e ambientais, com que o mundo se depara, algumas das medidas enunciadas (pelo G20), poderão em alguns casos revelar-se insuficientes, outras demorar demasiado tempo a ser implementadas e outras ainda só irão revelar-se positivas, na prevenção de crises futuras.
Devido à globalização das finanças, todas as acções junto do sistema bancário, devem ser coordenadas em conjunto por todos os países e, não isoladas como têm sido feitas até agora. Não tendo sido desenhado um plano conjunto, iremos continuar a assistir ao desperdício de recursos e à falta de eficácia dos planos.
O G20 decidiu criar um fundo de crédito às exportações, para tentar travar a queda do comércio mundial, o qual será colocado à disponibilidade das empresas exportadoras dos países emergentes. Trata-se de uma excelente medida, que irá beneficiar particularmente aqueles países, mas de efeito reduzido no crescimento à escala global.
Nesta cimeira, foram dados passos importantes na direcção certa, mas muitos mais irão ser ainda necessários, sendo que as maiores economias do mundo, vão precisar ainda de muito tempo, para concretizar o inevitável ajustamento económico e financeiro que lhes permitirá retomar de novo, o crescimento, desta vez sustentado.
29 de Março de 2009 – “A China não cresce sem a globalização”
A China desenvolveu a sua economia ajustando-se ao modelo da globalização, por isso duvido que este país volte a crescer significativamente, sem antes se verificar também a retoma da procura dos seus excedentes por parte dos mercados internacionais. Seguindo o exemplo de diversos países, a China lançou pacotes de estímulos internos para enfrentar a crise e tal como se tem passado nos outros estados, as medidas daí resultantes têm sido praticamente orientadas para a produção e consumo interno de bens, produtos e serviços, portanto com fraca projecção no mercado externo. Como se sabe, estes estímulos têm como objectivo principal a manutenção do emprego de modo a evitar o crescimento de problemas sociais. São medidas tomadas para atenuar os efeitos e as causas resultante da "passagem" da crise e não, como alguns possam pensar, medidas encontradas para a solução dos problemas e a viabilização da recuperação económica internacional. Essa recuperação económica está longe de acontecer e a China, provavelmente, sendo um dos países com maior capacidade para conseguir sair da crise, irá sentir-se condicionada nos próximos anos, mais por factores de natureza externa do que interna.
25 de Março – “Sinais da América”
Obama sabe perfeitamente que a actual situação de crise profunda que o mundo assiste foi causada pela teoria dos Mercados Eficientes e a doutrina fundamental do laissez –faire que a acompanha, adoptada pela América e copiada pelo mundo após a Segunda Guerra Mundial. Não será pois de estranhar que Obama comece a dar ao estado um papel de maior intervenção, muito ao estilo das teorias propostas por Keynes.
28 de Fevereiro de 2009 – “Andava por ai muito dinheiro falado, mas pouco dinheiro contado”.
As medidas que os governos dos diversos estados estão a desenvolver para enfrentar a crise, não são mais do que tentativas desesperadas para prolongar o modelo económico, mais uma vez à custa do aumento brutal dos défices, ou seja da dívida.
Não é possível manter indefinidamente o crescimento contínuo. O modelo económico estrutural e conjuntural em que vivemos nas últimas décadas, está a esgotar-se.
Os líderes mundiais têm que perceber que as suas políticas não mais poderão desprezar os problemas ambientais e os problemas sociais. Nas próximas décadas, estes são os problemas que têm que ser tomados como prioritários pelos governos e pelas instituições mais poderosas. A economia ter-se-á de adaptar a estas novas realidades, reinventando-se a si própria, criando modelos ajustados às necessidades ambientais e sociais e não só, como até aqui, exclusivamente à criação de riqueza desigual e assimétrica.
14 de Fevereiro de 2009 – “Crise de Valores e de Ética / Crise de Confiança
Os esforços que os governos de muitos países estão a desenvolver isoladamente, ao injectarem capital em montantes avultados nas economias, sem previamente terem preparado e implementado uma estratégia comum à escala global, cujo objectivo seria restituir a credibilidade e a confiança aos mercados, infelizmente para todos nós, irão ficar longe de obterem o sucesso pretendido.

Serrone

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