A cimeira do G20 em Londres foi um acontecimento marcante sob o ponto de vista político, mas cujo plano enunciado pode vir a revelar-se aquém das exigências com que se defrontam actualmente as economias e as finanças.
Os líderes das maiores potências apresentaram-se ao mundo com ideias convergentes em relação à natureza e à gravidade da crise e com a consciência que a sua resolução futura nunca poderá ter sucesso sem a colaboração e o envolvimento de todos. Embora reconheça que da cimeira resultaram acordos positivos, penso que poderá ser ainda muito cedo para tirar conclusões quanto à sua eficácia e para se começar já a projectar datas de fim da crise e a retoma do crescimento económico.
Face à gravidade dos problemas financeiros, económicos, sociais e ambientais, com que o mundo se depara, algumas das medidas enunciadas, poderão em alguns casos revelar-se insuficientes, outras demorar demasiado tempo a ser implementadas e outras ainda só irão revelar-se positivas, na prevenção de crises futuras.
Concretizando, começo pelo cerne e origem da crise: a situação do sector financeiro mundial. Não saiu da cimeira um plano à escala global capaz de gerar no curto prazo a restauração da transparência e confiança no sector financeiro. As intenções manifestadas em combater os paraísos fiscais e reforçar os mecanismos de regulação dos “hedge funds”, são medidas importantes, tendo em vista a credibilização futura do sector, mas insuficientes para que se possa falar numa nova arquitectura financeira mundial, como já li escrito em algumas jornais internacionais. Para além do mais, a sua implementação irá demorar algum tempo e só terá resultados no médio prazo, pois será ainda necessário, conceber, planear e executar um plano. Não foi planeada uma acção concertada, como se exigia, para combater os activos tóxicos que afectam o sistema bancário mundial. Não saiu da cimeira uma solução capaz de tirar da paralisia o sistema de crédito global, para que o crédito volte a fluir e a apoiar as empresas que dele precisam para continuarem a criar riqueza e emprego. Devido à globalização das finanças, todas as acções junto do sistema bancário, devem ser coordenadas em conjunto por todos os países e, não isoladas como têm sido feitas até agora. Não tendo sido desenhado um plano conjunto, iremos continuar a assistir ao desperdício de recursos e à falta de eficácia dos planos.
Um bilião de dólares prometido para combater a crise, aparentemente, é muito dinheiro, mas na realidade é menos de 1% do PIB mundial. Muitos analistas económicos já afirmaram que se trata de uma verba insuficiente para contrariar a queda da economia mundial, prevista para este ano, de 2,7 pontos percentuias.
O G20 decidiu criar um fundo de crédito às exportações, para tentar travar a queda do comércio mundial, o qual será colocado à disponibilidade das empresas exportadoras dos países emergentes. Trata-se de uma excelente medida, que irá beneficiar particularmente aqueles países, mas de efeito reduzido no crescimento à escala global. A questão fulcral é que a retoma económica mundial, precisa de ser alavancada pela procura externa dos grandes mercados consumidores. Os Estados Unidos, com problemas estruturais internos profundos e com o desemprego a aumentar descontroladamente, não está em condições de ser o motor de arranque, aliás, como foi afirmado na cimeira pelo seu próprio presidente. A China, pelas razões que enunciei na minha crónica anterior, também não está nessa posição. A União Europeia, conjuntamente com os países emergentes, vivem dificuldades idênticas. A quebra abrupta da produção motivada pela diminuição acentuada da procura e o agravamento dos problemas sociais, canalizam grande parte do esforço financeiro dos respectivos países. A verdade é que não há nenhum país ou região, actualmente em condições de ter o papel de "motor de arranque" da economia mundial.
Nesta cimeira, foram dados passos importantes na direcção certa, mas muitos mais irão ser ainda necessários, sendo que as maiores economias do mundo, vão precisar ainda de muito tempo, para concretizar o inevitável ajustamento económico e financeiro que lhes permitirá retomar de novo, o crescimento, desta vez sustentado. Começo a acreditar.
Serrone
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