sábado, 10 de janeiro de 2009

E agora Barak Obama?


Martin Wolf escreveu esta semana no Financial Times que esta crise é a mais grave que alguma vez se abateu sobre os países desenvolvidos desde a II Guerra Mundial. Começa a crónica com esta frase “ Bem-vindos a 2009, ano em que será traçado o futuro da economia mundial, quiçá por várias gerações”.
Barak Obama disse recentemente numa entrevista “ Eu não acredito que seja tarde demais para mudar de rumo da política económica, mas será senão forem tomadas medidas dramáticas tão cedo quanto possível”.
São duas posições que convergem na ideia inquestionável, que estamos perante uma grave crise que exige medidas urgentes e profundas. Quanto à gravidade e à urgência das medidas, parece ninguém ter dúvidas quanto a isso. O acto político de o deixar acontecer sem nada fazer, já deu provas irrefutáveis das implicações globais nefastas que dai podem advir, basta recordar o que aconteceu após a falência do Lheman Brothers. O problema mais complicado que se coloca está no patamar das medidas propriamente ditas. Sejam elas quais forem, têm que ser as medidas certas no momento certo, pois parece não existirem recursos suficientes nem grande margem de manobra para se implementarem planos do tipo B.
Este vai ser o foco principal de atenção que a nova administração americana irá ter que enfrentar. Barak Obama está a preparar o seu programa de ataque à crise e quando no dia 20 deste mês tomar posse, o mundo irá começar a perceber se as medidas do líder americano irão ou não levar à retoma. Segundo o Wall Strett Journal o plano de recuperação económica que Obama vai propor custará aos cofres públicos cerca de 570.000 milhões de euros, valor só ultrapassado pelo custo da II Guerra Mundial ao erário norte-americano. É uma quantia enorme que irá fazer aumentar o défice das contas públicas americano para um valor monstruoso de 8%, mas que poderá não ser suficiente, opina Martin Wolf.
Para os mais incrédulos quanto à importância da economia americana para o desenvolvimento económico dos países mais desenvolvidos, quero apenas recordar que esta tem sido nas últimas décadas o motor da economia mundial e que, apesar de nos últimos anos estar a diminuir o seu peso, o seu PIB continua ainda cerca de ¼ do PIB do planeta. Já para não falar no facto do mundo estar a viver uma crise que na verdade começou na América. À partida, será impensável pensar numa retoma económica mundial deixando para trás os Estados Unidos.
No passado recente foi o consumo da América que ajudou o mundo a sair das crises e agora? Será possível que o mesmo volte a acontecer? Como é que as famílias americanas, a enfrentar a escalada de desemprego e elevado grau de endividamento, poderão fomentar não só a procura de bens e serviços nacionais, mas também aumentar a procura externa?
Será que o estímulo orçamental em grande escala que Barak Obama vai propor ao senado, basta para aumentar a produção para níveis capazes de conter a escalada do desemprego e por outro lado dinamizar a economia de modo a fazer crescer o nível de confiança das famílias e dos investidores? Será possível retomar a criação de riqueza sustentável que dê para as pessoas irem pagando as suas dividas e continuarem a consumir os excedentes nacionais e mundiais?
Face à força do pensamento deixado no último parágrafo da crónica de Martin Wolf, não posso deixar de o traduzir e de o transcrever para nossa reflexão:
“Sabemos mais no presente que sabíamos no passado. Os Estados Unidos têm hoje um presidente, Barack Obama, com um vasto capital político e uma administração – já a partir de 20 de Janeiro – disposta a fazer tudo o que estiver ao seu alcance. O problema é que os Estados Unidos não estão suficientemente fortes para se poderem salvar sozinhos e a economia mundial. Precisam de ajuda, principalmente a que possa vir de países com excedentes orçamentais. Os Estados Unidos e um pequeno grupo de países desenvolvidos não podem continuar a absorver os excedentes de bens e de poupança do resto do mundo. A crise em curso é a prova disso mesmo. O mundo mudou, logo, as políticas também têm de mudar e já.”

Serrone, 10 de Janeiro de 2009

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