Assistimos no final do século passado à falência dos regimes socialistas que assentavam numa economia planeada e na propriedade estatal. Temos assistido com frequência a insucessos económicos, sempre que os estados adoptam uma política demasiado interventiva na economia, fechando esta, ou simplesmente limitando a sua livre e regular actividade.
Em contraponto temos verificado o sucesso das políticas económicas adoptadas pelas democracias liberais, baseadas nos mercados abertos e de livre concorrência. As maiores potências económicas do mundo actual, os Estados Unidos e a União Europeia, são a prova e constituem-se como bons exemplos do que estou a falar.
O efeito globalização é contrário à fragmentação dos mercados. Ele actua ao contrário da lógica imposta pela actual divisão geopolítica dos estados e, nessa medida, esperava-se que o fenómeno da globalização também permitisse às economias mais débeis, colher os benefícios provenientes do estabelecimento de relações com as economias mais desenvolvidas. Na verdade, sempre que acontece o crescimento económico das maiores economias, verifica-se também um efeito de arrastamento positivo na generalidade das economias dos países em desenvolvimento.
Anne Kruger, directora adjunta do Fundo Monetário Internacional, em 2000 definiu a globalização como um “fenómeno através do qual os agentes económicos, onde quer que estejam no mundo, são muito mais afectados por eventos em outra parte do mundo” do que antes.
A questão é que essa afectação tanto pode ser positiva como pode ser negativa. No tempo de crescimento será de esperar que a afectação seja positiva. O contrário parece estar acontecer, agora que as economias mais fortes abrandam ou entram em recessão. A economia americana está tecnicamente em recessão, embora por razões estritamente políticas interna e de protecção dos próprios mercados, tal ainda não tenha sido confirmado pela administração Bush. Mas, a verdade é que os efeitos das fracas prestações económicas dos Estados Unidos da América são sentidos um pouco por todo o mundo. Os mercados internacionais agem com incerteza e desconfiança às suas fracas performances e à desvalorização do dólar, provocando uma onda de contenção no investimento.
Os mercados procuram adaptar-se a uma nova conjuntura internacional. Os recursos monetários disponíveis passaram a ser preferencialmente investidos, em produtos facilmente transaccionáveis e de menor risco, também de rápida valorização, tais como bens alimentares e petróleo.
Neste fórum já abordámos a problemática do efeito da especulação nos bens atrás referidos. Já vimos aqui em que medida o equilíbrio da oferta e da procura, tem sido afectado pelo rápido crescimento das economias emergentes e também já nos referimos ao impacto social e político dai resultante.
Todos ouvimos diariamente na comunicação social novas notícias de existência de problemas humanitários que se vão agravando um pouco por todo o mundo, devido à crise. Mesmo nos países mais desenvolvidos, assiste-se a um crescimento de problemas sociais graves em famílias com menor recursos ou pertencentes à classe média com alto grau de endividamento.
Ninguém ainda sabe ou pode prever no tempo o fim deste ciclo e em que medida é que a crise se pode agravar e alastrar.
Mas então o que é que está a falhar? Será que a economia de mercado não consegue responder aos novos desafios? O problema estará na democracia liberal ou na social-democracia? Será a globalização responsável pela crise? O que pode ser feito para atenuar os efeitos da crise? Como devem os estados responder aos novos desafios da humanidade?
Com o “correr da pena”, apetecia-me continuar a desenvolver este tema, procurando dar já as respostas às perguntas que deixei ficar. Mas, propositadamente vou aguardar, para permitir a si, caro leitor, dispor de tempo para poder dar a sua opinião. Certamente que este espaço ficará enriquecido com o debate de ideias, mesmo que contraditórias.
Serrone
5 comentários:
Capitalismo e globalização
Respondendo à provocação do Serrone, e porque quer a Crise, o Capitalismo ou a Globalização são coisas chatas, que deixam muitas interrogações para discutir, e respostas por responder – para além da que já publicou no blogue, eu acho que lhe vou dar uma achega, mas à minha maneira, , com alguma ligeireza para que este nosso mundo não fique tão chato, recorrendo a exemplos estereotipados, mas que deixam ler nas entrelinhas.
Acho que, quando Karl Marx formulou as suas teorias sobre o capital não teria imaginado por certo as voltas que o mundo iria dar.
Por exemplo: estaria ele de acordo com esta concepção a que chamaremos simplificadamente de capitalismo ideal?
Você tem duas vacas.
Vende uma e compra um boi.
Multiplicam-se e a economia cresce.
Você vende a manada e fica rico.
Aposenta-se.
Talvez concordasse desde que todos pudessem fazer o mesmo, digo eu.
Mas actualmente, com a globalização e as adaptações às culturas regionais dos vários países e regiões, será que se mantinha a bondade e a pureza conceptual acima expressas?
É um estudo sociológico e económico interessante...
Testem pois, aplicando a situação da posse da parelha bovina a casos concretos.
Comecemos - obrigatoriamente, claro está - pelo capitalismo americano:
Você tem duas vacas.
Vende uma.
Força a outra a produzir o leite de quatro vacas.
Fica surpreendido quando ela morre.
Capitalismo japonês:
Você tem duas vacas.
Redesenha-as para que tenham um décimo do tamanho de uma vaca normal e produzam vinte vezes mais leite.
Cria desenhos de vaquinhas chamados VAQUIMON e vende-os para o mundo inteiro.
Capitalismo inglês:
Você tem duas vacas.
Ambas são loucas.
Capitalismo holandês:
Você tem duas vacas.
Elas vivem juntas em União de Facto, não gostam de bois e estão no seu direito.
Capitalismo alemão:
Você tem duas vacas.
Elas produzem leite regularmente segundo padrões de quantidade e horário previamente estabelecidos, de forma precisa e lucrativa.
Porém, o que você queria mesmo era criar porcos.
Capitalismo russo:
Você tem duas vacas.
Conta-as e vê que tem cinco.
Conta de novo e vê que tem quarenta e duas.
Torna a contar e verifica que afinal só tem doze.
Pára de contar e abre outra garrafa de vodka.
Capitalismo suíço:
Você tem quinhentas vacas mas nenhuma é sua.
Cobra uma comissão para tomar conta delas.
Capitalismo espanhol:
Você tem duas vacas.
Tem muito orgulho nelas.
Capitalismo indiano:
Você tem duas vacas.
Ai de quem tocar nelas...
Capitalismo brasileiro:
Você tem duas vacas.
Reclama porque a manada não cresce.
Capitalismo português:
Você tem duas vacas.
Uma delas é roubada por alguém - até hoje não se sabe quem.
O Governo cria o IVA - Imposto de Vaccum Acrescentado.
É multado por um fiscal porque, embora você tenha pago o IVA, o valor de cálculo era o número presumido de vacas e não o número real.
O Ministério das Finanças através de dados presumidos do seu consumo de leite, leite, sapatos de couro e botões presume que você tem duzentas vacas.
Para se livrar do sarilho oferece a vaca que lhe resta ao inspector das Finanças para que ele feche os olhos e dê um jeitinho...
Conclusão:
Capitalismo e Globalização vão ser as duas “vacas” sagradas do futuro, e a Crise vai continuar!
(desculpe lá o "avacalhamento")
O Remexido
Caro Remexido,
O seu comentário fez-me lembrar uma das primeiras definições de globalização de que ouvi falar. Não sei se também conhece. Cito:
"Afinal o que é a globalização?
Para quem não sabe o que é temos um bom exemplo: O da Lady Diana.
Era uma princesa inglesa, que estava com um playboy egípcio, num carro alemão com motor holandês, dirigido por um motorista belga, embriagado com whisky escocês, capotando num túnel francês, perseguidos por paparazzi italianos, e que foi socorrida por um médico brasileiro, com medicamentos americanos.
Resultado: MORREU!!!!!!! "
Assinado:
Serrone
"Cabecinha pensadora, compadre... cabecinha pensadora!!"
Ora aí está uma definição quase correcta. Faltaram os caválos que puxaram o esquife: eram de pura raça lusitana, ora, portugueses!
Tal como os "árabes", tão apreciados em terra de suas Majestades!
Remexido
Caro Serrone,
Nós precisamos de bons governantes e de boas políticas. Infelizmente para o nosso país, não temos tido, na nossa jovem democracia, nem uma coisa nem outra.
A economia espanhola cresceu muito acima da média europeia durante os governos Aznar e em resultado disso os espanhóis conheceram a prosperidade e a mudança para melhor. Porquê? Porque o seu estilo de governação e a políticas liberais assentaram que nem uma luva na conjuntura nacional e internacional existente.
Reformas radicais entre as quais no sector da administração pública, com a redução da despesa pública para valores controláveis e redução de impostos assentes numa política marcadamente liberal, colocaram a Espanha a crescer como nunca na sua história.
O caminho percorrido, de início sofreu grande contestação da esquerda, porque o desemprego parecia aumentar em vez de diminuir e não se viam muitas medidas de carácter social.
Mas a aposta no crescimento económico e nas reformas profundas acabou por trazer a todos os espanhóis a compensação. Só se pode distribuir riqueza quando ela foi previamente criada, caso contrário não é possível. “Casas onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”.
Doze anos depois, no país vizinho, o governo socialista, por adopção de erradas políticas economistas e sociais, está a empurrar o país para um crescente atraso e dificuldades. Está a deteriorar-se o resultado deixado por Aznar. O crescimento da economia espanhola é já metade do crescimento da Europa. Zapatero não é capaz de lançar reformas e o gasto público é maior do que o que devia. O desânimo instala-se na generalidade dos espanhois.
É por estas e por outras, caro amigo Serrone que me apresento sempre como uma liberal convicta. Ao contrário do que os comunitaristas tentam apregoar defendendo a “tese social”, eu considero que o liberalismo no seu estrado mais refinado, sem contaminações comunitaristas, é a posição política mais moderada e que melhor defende a classe média e as mais desprotegidas.
Cumprimentos
Amélia Vasconcelos
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