domingo, 4 de maio de 2008

A crise do petróleo


Perceber a crise através do nosso bolso:


Há um ano atrás encher um depósito com 50 litros de gasóleo era mais barato 13,15€ (menos 24,795) e encher um depósito com 50 litros de gasolina sem chumbo 95 era mais barato 5,75€ (menos 8,62%).
No dia 30 de Abril, o preço dos combustíveis atingiu um nível recorde no nosso país, com gasolina a ser vendida a 1,449€ e o gasóleo a chegar aos 1,324€.
A cotação de referência para Portugal da gasolina nos mercados internacionais subiu 26,7% nos últimos 12 meses em dólares, e apenas 10,5% em euros. Mas na verdade, o preço só subiu 8,62%. Quer isto dizer que a subida dos mercados ainda não está reflectida nos postos de abastecimento, sendo que no caso do gasóleo ainda se acentua mais esta diferença: enquanto o gasóleo aumentou 24,8% nos mercados internacionais só 12,3% de aumento se fizeram sentir no consumidor do mercado português. Estas diferenças parecem mostrar que ainda existe margem para os preços aumentarem.
Encher um depósito de gasóleo em Portugal é mais caro que encher um depósito de gasolina em Espanha. Como se sabe o peso dos impostos no preço final dos combustíveis é brutal em Portugal. Só para se ter uma ideia, o litro de gasolina custa menos de 60 cêntimos e o litro de gasóleo não chega aos 70 cêntimos.
A fiscalidade portuguesa atribui aos combustíveis, uma parte fixa (impostos sobre produtos petrolíferos) e outra variável (IVA a 21%). Será esta última aquela que mais beneficia as receitas do estado porque quanto mais caro é o combustível mais IVA é facturado.
O que se passa afinal com o petróleo? Há falta deste produto no mercado?
“Não há falta de petróleo. Há a convicção de que ele pode vir a faltar”. A subida em flecha dos preços do crude pode ser explicada com esta simplicidade. A crescente procura dos países emergentes, as tensões geopolíticas, a desvalorização do dólar e como não poderia deixar de ser a especulação dos mercados são os factores que explicam a crise.
Só para se ter uma ideia, a especulação representa mais de 20% do preço actual do barril de crude que anda perto dos 120 dólares em Nova Iorque.


Mas afinal o que é a especulação de que tanto se fala?


É a parte financeira da questão. Os fundos de investimento estão ávidos em criar mais-valias financeiras aos investidores, depois da crise americana no investimento imobiliário que se revela agora de alto risco. Apostam por isso em reforçar os bens mercantis, como alimentos e petróleo, condicionando artificialmente os preços destes bens. A especulação não irá dar tréguas enquanto o dólar se mantiver fraco, o que nos faz ter poucas esperanças do barril voltar a ter preços abaixo dos 100 dólares.



Até quando o governo irá fazer de conta que nada se passa?


Sendo os combustíveis uns dos factores de produção mais importantes para a generalidade da economia, torna-se incompreensível a atitude do governo português que prefere continuar a obter acréscimos sucessivos na receita, através da cobrança do IVA sobre os aumentos do preço impostos pelas gasolineiras, ao invés de baixar o imposto sobre os combustíveis.
Com esta forma de governar, lá se vai arranjando mais uns balões de oxigeno para salvaguardar o défice, não vá aparecer mais algumas despesas de última hora, fazendo de conta que aqueles que vão criando ainda alguma riqueza neste país, estão sólidos que nem uma rocha e que a economia vai de vento em popa.


Serrone, dia 4 de Maio de 2008

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