Mais de metade da população mundial (mais de 3 mil milhões de pessoas) vive com menos de dois dólares por dia para comprar alimentos. Os pobres gastam 80% a 90% do seu rendimento na alimentação, os ricos apenas gastam 10 a 20%. Estes números fazem toda a diferença. A fome atinge hoje 854 milhões de pessoas, número que poderá aumentar rapidamente para mil milhões devido à crise alimentar que estamos a assistir.
Um economista da Universidade de Chicago, citado pela revista o Economist, revelou que o aumento de um terço no preço dos alimentos reduz em três por cento o nível de vida nos países mais ricos e em 20% nos mais pobres.
Nesta primeira década do século vinte e um, estão criadas as condições para se acentuarem ainda mais as desigualdades entre países ricos e pobres. Em alguns países em desenvolvimento a falta de alimentos e a fome geram protestos crescentes que agudizam as relações entre governos e populações, levando estes últimos a fechar as exportações num cenário de escassez de oferta.
Na zona Euro a variação homóloga dos preços dos alimentos em Março deste ano relativamente ao igual período do ano transacto, sofreu um acréscimo de 3,6 pontos percentuais (de 2,6 para 6,2).
Preços dos alimentos na Europa poderão subir 39% este ano.
Segundo a Comissão Europeia, em vez do aumento médio de 10% previsto em Outubro último, as provisões apontam agora para um aumento médio na ordem dos 39%.O pior irá passar-se no segundo semestre deste ano, prevendo-se para este período um salto homólogo superior a 54%.
As razões apontadas pela Comissão Europeia: aumento da procura destes bens na China e na Índia e o papel cada vez maior de factores temporários, como a especulação nos mercados e as alterações climatéricas.
Mas afinal. o que está por detrás da crise?
-Agricultura abandonada devido a um desinvestimento de décadas neste sector na generalidade dos países do mundo.
-Décadas de preços artificialmente baixos e mercados distorcidos.
-Procura crescente por parte das economias emergentes, encabeçadas pela China e pela Índia, devido ao aumento do nível de vida daquelas populações.
-Subida dos custos de produção por causa da subida do barril de crude nos mercados.
- Procura crescente dos cereais para produção de etanol (bio-combustível).
-Baixa do preço do dólar.
-Muita especulação nos mercados de transacção.
As alterações climáticas
O clima é outro fator que reduziu a quantidade de alimentos produzida no mundo, segundo relatório da ONU divulgado recentemente.
As condições climáticas desfavoráveis devastaram culturas na Austrália e reduziram as colheitas em muitos outros países, em particular na Europa, segundo a FAO.
Segundo as previsões da FAO, as reservas mundiais de cereais caíram para o seu nível mais baixo em 25 anos com 405 milhões de toneladas em 2007/08, 5 % (21 milhões de toneladas) abaixo do nível já reduzido do ano anterior.
Especulação dos mercados
"Só os fundos de investimento em matérias-primas cotados na bolsa de Chicago controlam um valor recorde de 4,5 mil milhões de galões de trigo, milho e soja, ou seja, metade do total armazenado nos silos norte-americanos. Os investidores aceleraram as compras de cereais em 29% em 2007, como forma de compensar as perdas nos mercados accionistas e no dólar, decorrentes da crise do ‘subprime’. " A especulação veio agravar a pressão já existente sobre os preços, justificada inicialmente por causas estruturais. Os economistas estimam que os preços dos alimentos dificilmente poderão retornar aos valores de 2005 e que pelo menos durante a próxima década a crise se poderá manter.
O aumento galopante dos preços do petróleo e a crise dos alimentos são identificados como o maiores factores de risco para a inflação da zona euro.
Mas infelizmente em vias de desenvolvimento, a factura a pagar será maior. "No Bangladesh, por exemplo, mais de 500 mil militares passaram a comer batatas para diminuir a procura por arroz e trigo; no Egipto, em Marrocos, no Peru ou no Haiti os governantes enfrentam motins e protestos populares contra a escassez de alimentos básicos."Estamos a assistir a um fenómeno global ao qual ninguém deverá e ficar indiferente. Num futuro imediato mais de cem milhões de pessoas correm o risco de pertencer ao grupo dos seres humanos que passam fome e que correm risco de vida.
Como eu admiraria os governantes poderosos deste planeta, se tirassem dos orçamentos de defesa verbas avultadas para ajudar aqueles que mais precisam, independentemente da sua raça, crença religiosa ou cor política.
Serrone, 4 de Maio de 2008
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