domingo, 16 de maio de 2010

O ESPÍRITO DA IGUALDADE


Serão as sociedades nas quais se verifica maior desigualdade social, detentoras de maior índice de problemas com que o mundo dito desenvolvido se debate actualmente?
Será a disparidade de rendimentos de uma sociedade o factor que mais contribui para a existência dos inúmeros problemas na comunidade, do que a própria pobreza existente nos países mais ricos?
Richard Wilkinson e Kate Pickett no seu livro polémico “The Spirit Level - Why More Equal Societies Almost Always Do Better”, respondem afirmativamente a ambas questões.
Para sustentar esta tese, os dois investigadores seleccionaram 23 países dos mais ricos do mundo e os cinquenta estados norte-americanos. Baseando-se em dados estatísticos referenciados como fidedignos, os autores debruçaram-se sobre os problemas sociais e de saúde (IPSS) que consideraram mais comuns em países mais desiguais, a saber:
· Nível de confiança;
· Doenças mentais (nomeadamente toxicodependência e alcoolismo);
· Esperança de vida e mortalidade infantil;
· Obesidade;
· Desempenho educativo das crianças;
· Gravidez na adolescência;
· Homicídios;
· Taxa de encarceramento;
·Mobilidade social (oportunidade das pessoas ascenderem ou descenderem na escala social).
Invariavelmente, através de gráficos, Richard Wilkinson e Kate Pickett mostram, quer a nível internacional, quer a nível dos USA que, quaisquer dos problemas acima referidos, são mais prementes nas sociedades onde a desigualdade de rendimentos é de nível superior. Nos países ricos com mais baixos níveis de desigualdade de rendimentos, o índice de existência de problemas é menor.
“Somos afectados mais distintamente pelas diferenças de rendimentos dentro da nossa própria sociedade do que pelas diferenças de rendimentos existente entre sociedades ricas”.
Os mais ricos tendem, em média, ser mais saudáveis e felizes do que os mais pobre dessa mesma sociedade. Mas, já na comparação entre países, não faz muita diferença, se em média os indivíduos ricos duma sociedade desse país, têm o dobro da riqueza em relação a indivíduos ricos de outra sociedade, de outro país.
Porque é que tal acontece? Segundo Richard Wilkinson e Kate Pickett, a explicação é o que importa às pessoas pode não ser a nível real de rendimentos ou do seu padrão real de vida, mas sim a forma como estas se comparam entre si no seio da mesma sociedade.
A proporção da população que sente que pode confiar nos outros e nas instituições, é maior quando se verifica menor desigualdade social. Nas sociedades com maior índice de desigualdade social, a proporção da população que sente que pode confiar nos outros é muito baixa.
O exposto leva os autores a concluir que o essencial para a criação de uma melhor sociedade, é não só o crescimento económico, mas não mesmos importante que este, o desenvolvimento de um movimento contínuo e empenhado em tornar as sociedades mais justas, incutindo nos indivíduos uma cultura permanente de promoção de confiança entre eles próprios e entre eles e as instituições.
Serrone

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