O presidente Obama discursou perante as duas câmaras do Congresso colocando a questão da maior igualdade social na agenda política. O que ele disse aos americanos é que “uma melhor redistribuição da riqueza é essencial para concertar uma economia doente”. Anunciou o recurso a politicas públicas para tornar acessível os cuidados de saúde e facilitar as condições de acesso à educação, a todos os americanos. Falou em aumentar os impostos sobre os mais ricos e propôs a utilização dos dinheiros dos contribuintes para fomentar o novo “paradigma da economia verde”. Afirmou ainda que era tempo da sociedade começar a olhar para o Estado de outra maneira, rejeitando a ideia que os problemas se resolveriam por si mesmos e que era preciso ter um governo com acções fortes e de grandes ideias. A determinada altura fez a seguinte pergunta ao Congresso: -“Os americanos estão preparados para esta viragem?”. Esta ideia forte de mudança que marcou o discurso de Obama, traduz-se numa maior sensibilidade para os valores sociais, ambientais e culturais e para a necessidade de aumentar o papel do Estado na construção dos alicerces de uma nova prosperidade comum.
O debate político está lançado nas elites americanas e o mundo assiste ansioso, à espera de novos valores para a globalização. Se Obama vencer a grandiosa batalha interna que tem pela frente, o mundo acabará por seguir o seu exemplo e a humanidade poderá voltar a sentir esperança num futuro mais próspero e menos assimétrico para todos.
Ideologias, teorias ou simplesmente ideias?
Apesar da insistência dos jornalistas, Obama não aceita responder directamente a perguntas feitas com o intuito de identificar qual é a sua filosofia política. Entendemos que não responda porque não quer com isso criar qualquer tipo de clivagens na sociedade americana. Ele sempre afirmou que pretende envolver toda a nação no processo de mudança e que quer fazer renascer no povo o espírito do sonho americano.
Mas nós podemos e devemos ir tentando encontrar algumas dessas respostas. Não é importante saber se as suas politicas são menos à direita e mais à esquerda ou se as suas ideias são mais identificadas com o socialismo ou com a social-democracia. O que é verdadeiramente relevante é perceber qual é o fio condutor dessas políticas e o impacto que elas poderão ter no futuro da América e do mundo.
Obama sabe perfeitamente que a actual situação de crise profunda que o mundo assiste foi causada pela teoria dos Mercados Eficientes e a doutrina fundamental do laissez –faire que a acompanha, adoptada pela América e copiada pelo mundo após a Segunda Guerra Mundial. Não será pois de estranhar que Obama comece a dar ao estado um papel de maior intervenção, muito ao estilo das teorias propostas por Keynes. Em que medida é que o vai fazer, ainda ninguém sabe ao certo. Por isso é ainda muito cedo para se tirarem mais conclusões. Temos que esperar pelas cenas dos próximos capítulos, sendo no entanto certo que a mudança já teve o seu início, marcada simbolicamente no dia 26 de Fevereiro de 2009.
Serrone, 25 de Março de 2009
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