sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Globalização, "Guilty or not Guilty?"

No dia 26 de Maio deste ano deixei em aberto algumas questões sobre os eventuais efeitos da globalização na actual crise mundial. Desde essa data, tenho tentado formar melhor a minha opinião, lendo livros e artigos dos mais prestigiados especialistas internacionais, tais como Paul Samuelson, autor do livro Economia da Era Pós-guerra; Martin Wolf, autor do livro “Por Que Funciona a Globalização e colunista do Financial Times; Paul Krugman, teórico do comércio internancional; Larry Summers, chefe do Tesouro dos EUA; e o anti-globalização e Prémio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, entre outros.

Confesso que, depois de muito ler, fiquei com mais incertezas do que tinha antes. Os contornos macroeconómicos, sócio culturais, ambientais, geoestratégicos e políticos existentes, são de uma complexidade sem limites e os especialistas entendem-nos e escrevem sobre eles, de forma diversa e por vezes antagónica, mas sempre argumentando persuasivamente as suas ideias.

Mas, quero-lhe dizer caro leitor que, na sua essência, as minhas convicções liberais não foram minimamente afectadas. Poderei mesmo dizer que, estas acabaram por sair reforçadas, pois acredito que só a liberalização alargada dos mercados, conjugada com a democratização do mundo e das suas instituições mais importantes, poderão trazer crescimento económico sustentável a cada vez mais regiões e mais bem-estar às suas populações.

A globalização pode continuar a funcionar como factor de crescimento em tempo de crise, apesar de, na base desta mesma crise, ter estado a globalização. À partida parece existir contradição no que acabei de referir, mas asseguro que não, senão vejamos:

O problema não está na globalização, mas sim na falta de novas instituições e de mecanismos que tornem a globalização de hoje mais eficaz, mais sustentável e mais justa. No dia 5 de Junho, neste espaço escrevi como se poderia travar a especulação dos mercados. Pois bem é daquele tipo de mecanismos controladores e reguladores a que me refiro.

O mundo precisa de mercados globais assentes em bases formais mais fortes e mais consensuais. Não existe uma autoridade anti-monopólio mundial, não há uma entidade reguladora dos mercados, as redes e sistemas de segurança mundiais são inexistentes e há ainda muita falta de democracia por esse mundo fora. Terão que se criar novas regras para a globalização continuar a ser a alavanca de diminuição da pobreza dos povos de todo o planeta. Estas regras deverão estar assentes em bases políticas fortes, em instituições apoiadas pelas elites mundiais mas simultaneamente e também com legitimidade popular. Deverão ser criados mecanismos de regulação e de compensação económica entre zonas do mundo.

Claro que, neste enquadramento, não poderia deixar de me referir às rivalidades internacionais. Os problemas de natureza geopolítica latentes são uma grande ameaça à globalização. Mas, mesmo assim acho que, actualmente, estamos numa situação muito menos complicada do que esteve o mundo na altura da grande recessão da década de 30. Recordo que nessa década, o crescimento do comunismo e do fascismo fragmentavam o globo. Hoje, em vez de rotura entre as maiores potências mundiais, enfrentamos uma ameaça alternativa – o mega - terrorismo. Neste âmbito, a globalização pode funcionar como uma arma de ataque e simultaneamente defensiva, contra o terrorismo. Como? Permitindo aos países interagirem potenciando o seu combate generalizado em toda a parte do planeta, e por outro lado, porque o desenvolvimento gerado trará o bem-estar das populações a cada vez áreas mais alargadas do globo, agindo deste modo dissuasivamente ao seu espalhamento.

Os interesses proteccionistas dos estados, manifestados através da atribuição de subsídios a sectores da indústria e da agricultura, a limitação do mercado de exportações, o apoio camuflado a grandes grupos económicos, tantas vezes também eles monopolistas, são uma das maiores ameaças à globalização e ao crescimento económico sustentável ao nível do planeta. Há que criar regras limitadoras deste tipo de poder camuflado que gera desajustamentos económicos de larga escala, desvirtuando as regras de mercado. Também deverão ser criados mecanismos que prevejam, controlem e que produzam resultados que possibilitem que os seus efeitos, ao produzirem-se sejam drásticamente atenuados e não se repliquem no mercado global.

Será do interesse de todos os estados, como dos seus cidadãos, participar em regimes e instituições baseadas em tratados internacionais que forneçam bens públicos globais, incluindo mercados abertos, protecção ambiental, saúde e segurança internacional. A necessidade de defesa da integração económica internacional, juntamente com defesas finanças públicas sãs, estabilidade macroeconómica, estabilidade financeira, investimentos adequados na educação, saúde e infra-estruturas, encorajamento para a inovação e sobretudo, mais e melhores Estados de Direito.

Será necessário criar um credor global de último recurso e os países e os mercados devem aprender com os seus próprios erros, sendo que a comunidade global deverá ter capacidade para intervir onde os Estados falharam por completo.
Serrone

1 comentário:

Amélia Vasconcelos disse...

Caro Serrone,
Recebi a sua mensagem a informar a actualização do seu espaço e não perdi um minuto para o começar a ler. Meu amigo, não poderia estar mais de acordo consigo. Prometo escrever alguns comentários mais técnicos depois de regressar de férias (começo hoje). Hoje vai ser um dia difícil para mim. Tenho que despachar muita papelada até ao fim-do-dia, por isso um abraço desta sua amiga que muito o estima.

Amélia Vasconcelos