segunda-feira, 26 de maio de 2008

Crise....De quem é a culpa?

Sempre acreditei na economia global de mercado. Não conheço alternativa aos regimes democráticos e acredito que o mercado pode não ser uma condição suficiente para a existência de democracia, mas é, no mínimo, uma condição necessária.

Assistimos no final do século passado à falência dos regimes socialistas que assentavam numa economia planeada e na propriedade estatal. Temos assistido com frequência a insucessos económicos, sempre que os estados adoptam uma política demasiado interventiva na economia, fechando esta, ou simplesmente limitando a sua livre e regular actividade.


Em contraponto temos verificado o sucesso das políticas económicas adoptadas pelas democracias liberais, baseadas nos mercados abertos e de livre concorrência. As maiores potências económicas do mundo actual, os Estados Unidos e a União Europeia, são a prova e constituem-se como bons exemplos do que estou a falar.


O efeito globalização é contrário à fragmentação dos mercados. Ele actua ao contrário da lógica imposta pela actual divisão geopolítica dos estados e, nessa medida, esperava-se que o fenómeno da globalização também permitisse às economias mais débeis, colher os benefícios provenientes do estabelecimento de relações com as economias mais desenvolvidas. Na verdade, sempre que acontece o crescimento económico das maiores economias, verifica-se também um efeito de arrastamento positivo na generalidade das economias dos países em desenvolvimento.


Anne Kruger, directora adjunta do Fundo Monetário Internacional, em 2000 definiu a globalização como um “fenómeno através do qual os agentes económicos, onde quer que estejam no mundo, são muito mais afectados por eventos em outra parte do mundo” do que antes.


A questão é que essa afectação tanto pode ser positiva como pode ser negativa. No tempo de crescimento será de esperar que a afectação seja positiva. O contrário parece estar acontecer, agora que as economias mais fortes abrandam ou entram em recessão. A economia americana está tecnicamente em recessão, embora por razões estritamente políticas interna e de protecção dos próprios mercados, tal ainda não tenha sido confirmado pela administração Bush. Mas, a verdade é que os efeitos das fracas prestações económicas dos Estados Unidos da América são sentidos um pouco por todo o mundo. Os mercados internacionais agem com incerteza e desconfiança às suas fracas performances e à desvalorização do dólar, provocando uma onda de contenção no investimento.


Os mercados procuram adaptar-se a uma nova conjuntura internacional. Os recursos monetários disponíveis passaram a ser preferencialmente investidos, em produtos facilmente transaccionáveis e de menor risco, também de rápida valorização, tais como bens alimentares e petróleo.


Neste fórum já abordámos a problemática do efeito da especulação nos bens atrás referidos. Já vimos aqui em que medida o equilíbrio da oferta e da procura, tem sido afectado pelo rápido crescimento das economias emergentes e também já nos referimos ao impacto social e político dai resultante.


Todos ouvimos diariamente na comunicação social novas notícias de existência de problemas humanitários que se vão agravando um pouco por todo o mundo, devido à crise. Mesmo nos países mais desenvolvidos, assiste-se a um crescimento de problemas sociais graves em famílias com menor recursos ou pertencentes à classe média com alto grau de endividamento.
Ninguém ainda sabe ou pode prever no tempo o fim deste ciclo e em que medida é que a crise se pode agravar e alastrar.


Mas então o que é que está a falhar? Será que a economia de mercado não consegue responder aos novos desafios? O problema estará na democracia liberal ou na social-democracia? Será a globalização responsável pela crise? O que pode ser feito para atenuar os efeitos da crise? Como devem os estados responder aos novos desafios da humanidade?


Com o “correr da pena”, apetecia-me continuar a desenvolver este tema, procurando dar já as respostas às perguntas que deixei ficar. Mas, propositadamente vou aguardar, para permitir a si, caro leitor, dispor de tempo para poder dar a sua opinião. Certamente que este espaço ficará enriquecido com o debate de ideias, mesmo que contraditórias.
Serrone

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Efeitos do Aquecimento do Planeta:

O ser humano está a influenciar o clima através de crescentes emissões de gases de estufa e o crescente aquecimento do planeta está a ter um impacto nos sistemas físicos e biológicos à escala global.

Pela importância e por ser extraordinariamente relevante, vou transcrever na íntegra um artigo do jornal diário “O Público”.

15.05.2008, Ana Gerschenfeld
Um pouco por todo o mundo, sistemas físicos e biológicos estão a ser substancialmente afectados pela subida das temperaturas provocada pelas actividades humanas, conclui hoje um mega-estudo na Nature.

A conclusão não é inesperada: em 2007, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas já tinha declarado que grande parte do aquecimento global se devia muito provavelmente ao aumento das emissões de gases de estufa pelos homens - e que as consequentes alterações climáticas iriam provavelmente ter efeitos visíveis nos ecossistemas do planeta. Até agora, os inúmeros estudos realizados debruçavam-se sobre fenómenos isolados e a escalas bastante locais. O novo estudo vai mais longe pois, pela primeira vez, reúne num único "meta-estudo" cerca de 30 mil conjuntos de dados, fornecendo uma visão global do que está a acontecer.
Cynthia Rozenweig, do Instituto da Terra da Columbia University, e uma equipa internacional de investigadores, analisaram os estudos publicados, a partir de 1970, sobre um total de 829 sistemas físicos e cerca de 28 mil sistemas animais e vegetais. Olharam para coisas como a diminuição dos glaciares em todos os continentes; a fusão do permafrost; o degelo precoce dos rios na Primavera ou o aquecimento das massas de água. Do lado dos seres vivos, os efeitos incluíam o florescimento precoce das plantas, as deslocações de espécies vegetais para latitudes e altitudes mais elevadas no Hemisfério Norte, as mudanças nos padrões de migração das aves na Europa, América do Norte e Austrália; e a evolução do plâncton e dos peixes nos oceanos, que de espécies de águas frias estão a transformar-se em espécies adaptadas a águas mais quentes.
Resultado: nos sistemas físicos, 95 por cento das mudanças observadas são compatíveis com o que seria de prever num cenário de aquecimento global. E nos sistemas biológicos, o mesmo vale para 90 por cento das mudanças observadas. "O ser humano está a influenciar o clima através de crescentes emissões de gases de estufa", escreve Rozenweig num comunicado da sua universidade, "e o crescente aquecimento do planeta está a ter um impacto nos sistemas físicos e biológicos à escala global"
Os cientistas constataram que as alterações eram mais marcadas na América do Norte, Ásia e Europa, algo que, afirmam, acontece principalmente porque a grande maioria dos estudos foram realizados nessas regiões. Mas tudo indica que em regiões como a América do Sul, Austrália e África, apesar de as mudanças estarem menos documentadas, a realidade não é diferente. Os autores salientam ainda que os efeitos do aquecimento global ultrapassam de longe outros efeitos, mais modestos, da actividade humana, como a desflorestação e outras alterações na utilização dos solos.
90% das mudanças observadas nos sistemas biológicos são compatíveis com o aquecimento global, revela o estudo.

Texto públicado no Jornal o público do dia 15 de Maio de 2008

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Com que direito?

1,5 milhões de pessoas terão sido afectadas pelo ciclone Nargis que atingiu Myamar, o mais devastador de toda a região desde 1991, quando perderam a vida 143.000 pessoas no Bangladesh.

Myamar (antiga Birmânia) é governada por uma ditadura militar xenófoba e autárcica desde 1962, após um golpe de estado que vitimizou cerca de 3000 pessoas.

A Birmânia possui no seu território o importante gasoduto birmanês de Yadana e é precisamente este e os projectos ligados ao gás que têm mantido o regime militar no poder, possibilitando a compra de armas e munições e o pagamento dos seus soldados.

Os monges budistas, os principais opositores internos ao regime, são massacrados e presos perante a passividade dos poderosos do mundo. A isto não será alheio certamente o facto de o gasoduto ser controlado pelas gigantes multinacionais petrolíferas norte-americana e francesa, respectivamente Chevron e Total.

No jornal Público de hoje, é referido em primeira página que o “governo Birmanez esta a pôr entraves ao envio de ajuda humanitária internacional.” e que os “militares mostram a sua verdadeira face, o desprezo pelo sofrimento do povo”.

Mas que mundo é este que teima em respeitar a legitimidade de um governo auto proclamado, que mata milhares de seres humanos, que oprime e maltrata outros milhares, que os escraviza (na construção da gasoduto) e que os prende sem culpa formada apenas porque manifestaram a sua oposição à ditadura?

Agora, depois de um cataclismo, 1,5 milhões de pessoas necessitam de ajuda imediata, a comunidade internacional cria uma onda de solidariedade e não pode chegar às vítimas com a celeridade precisa, porque os ditadores colocam entraves?

Que mundo é este onde vivemos? Basta! Temos todos a obrigação de dizer, basta!
O mundo não irá sobreviver se o poder exercido pelos homens continuar a ser manipulado e condicionado por outros interesses que não coloquem os seus povos e a humanidade no seu todo em primeiro lugar.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Este mundo louco que os homens têm construido

Vivemos num mundo cada vez mais global e conturbado, em que os mercados reagem facilmente às leis da natureza e em que os homens vão alterando a natureza para satisfazer as leis dos mercados. No entanto, natureza e mercados, parecem estar cada vez mais no fio da navalha.
Já ninguém tem dúvidas que se estão a verificar alterações climáticas importantes devido ao aquecimento global provocado pelo agravamento do efeito de estufa, causado entre outros factores pela queima progressiva ao longo de décadas, de petróleo, carvão e gás. Segundo cientistas da ONU, não há dúvidas que a humanidade têm contribuído para o aquecimento global, não se conhecendo ainda exactamente em que proporção.

O que se sabe e se perspectiva é que as alterações climáticas para o século 21, irão causar futuras mudanças irreversíveis e em larga escala, nos sistemas do planeta, resultando em impactos de escala continental e global. Quero dizer que é previsível a ocorrência de cataclismos “naturais” cada vez mais frequentes.

No princípio deste ano, a Organização de Alimentação e Agricultura estimava que Myanmar exportasse em 2008, 600 mil toneladas de arroz. Entretanto, como se sabe, Myanmar foi atingido por um ciclone que destruiu as suas plantações e matou cerca de 60 mil pessoas (número ainda não confirmado). Devido ao cataclismo as exportações do país poderão ser afectadas e poderá ser necessário recorrer à importação daquele cereal.

"Os estragos do ciclone em Myanmar vão reduzir a oferta de arroz, especialmente na Ásia, afirmou o analista Takaki Shigemoto da Okachi & Co. citado pela Bloomberg.” “A verificar-se esta ocorrência, a oferta poderá ser insuficiente para a procura mundial, o que impulsionará os preços do arroz, elevando os riscos de fome para mil milhões de asiáticos, afirmou Haruhiko Kuroda, presidente do Banco de Desenvolvimento Asiático na passada segunda feira.”

Este cenário de especulação motivou já, pelo quarto dia consecutivo, que o arroz fosse negociado em alta.

Infelizmente, este é um bom exemplo do que poderá vir a acontecer com mais frequência no futuro próximo, a que não será certamente alheio:
-Os desequilíbrios económicos e sociais alimentados durante séculos por conveniência dos poderosos do mundo.
-O desenvolvimento económico dos estados ocidentais efectuado sem regras e sem respeito pelas leis da natureza.
-Mais recentemente o crescimento económico galopante das economias emergentes que se está a executar com os mesmos erros cometidos pelos povos ocidentais.

O homem com a sua ganância desmesurada, cego e insensível à natureza, à miséria, à pobreza extrema e precariedade social, conduzirá o mundo a um ponto sem retorno cada vez mais próximo e previsível.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Até quando pode durar a crise do petróleo?

A crescente procura deste produto, será acompanhada pelos produtores?

Segundo a FMI a produção dos países da OPEP deverá manter-se, enquanto os países produtores não pertencente a esta organização, aumentará entre 0,8-1 milhões de barris diários, o que será insuficiente para satisfazer o aumento da procura que em 2008 atingirá os 1,8 milhões de barris diários.

Por outro lado, ninguém tem dúvidas que as incertezas geopolíticas vão continuar no futuro próximo. Os recentes ataques de rebeldes às instalações de exploração de petróleo da Shell na Nigéria, fez com que este país começasse a produzir abaixo das suas capacidades, o que se deverá manter nos próximos meses. O Irão, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, acabou de anunciar que vai continuar com o seu programa nuclear. Uma decisão que inevitavelmente irá provocar mais incertezas no mercado e favorecer a especulação.

Todas as conturbações geopolíticas arrefecem os ímpetos dos investidores para incrementarem os seus investimentos nessas regiões do mundo, limitando deste modo a possibilidade de aumentar no futuro próximo a oferta, para poder vir a equilibrar a procura crescente.

Outros factores que têm estado na formação e manutenção da crise actual, deverão manter-se nos tempos mais próximos, tal como a depreciação do dólar americano e os seus efeitos na lei da oferta e da procura. Vejamos como funciona:
O dólar mais barato implica menor receita para os produtores, uma vez que a maior parte das transacções fazem-se com a utilização desta moeda. Para minimizarem a redução do lucro, estes acabam por ir aumentando os preços de venda do crude. Do lado da procura, o dólar mais barato favorece o aumento da procura, por parte daqueles que possuem outras moedas que se ncontram valorizadas em relação ao dólar.

O FMI estima que o preço do petróleo em 2009 e 2010 irá aproximar-se de valores próximos dos 100 dólares, mas abaixo deste patamar de custo. Esta situação só deverá acontecer dizem os analistas se o arrefecimento da economia americana se transmitir às economias emergentes. Estamos a falar na possibilidade de um abrandamento com algum significado das maiores economias à escala planetária.

A ser assim, facto que até se compreende, será para dizer, entre um cenário e outro, venha o diabo e escolha.

domingo, 4 de maio de 2008

A crise do petróleo


Perceber a crise através do nosso bolso:


Há um ano atrás encher um depósito com 50 litros de gasóleo era mais barato 13,15€ (menos 24,795) e encher um depósito com 50 litros de gasolina sem chumbo 95 era mais barato 5,75€ (menos 8,62%).
No dia 30 de Abril, o preço dos combustíveis atingiu um nível recorde no nosso país, com gasolina a ser vendida a 1,449€ e o gasóleo a chegar aos 1,324€.
A cotação de referência para Portugal da gasolina nos mercados internacionais subiu 26,7% nos últimos 12 meses em dólares, e apenas 10,5% em euros. Mas na verdade, o preço só subiu 8,62%. Quer isto dizer que a subida dos mercados ainda não está reflectida nos postos de abastecimento, sendo que no caso do gasóleo ainda se acentua mais esta diferença: enquanto o gasóleo aumentou 24,8% nos mercados internacionais só 12,3% de aumento se fizeram sentir no consumidor do mercado português. Estas diferenças parecem mostrar que ainda existe margem para os preços aumentarem.
Encher um depósito de gasóleo em Portugal é mais caro que encher um depósito de gasolina em Espanha. Como se sabe o peso dos impostos no preço final dos combustíveis é brutal em Portugal. Só para se ter uma ideia, o litro de gasolina custa menos de 60 cêntimos e o litro de gasóleo não chega aos 70 cêntimos.
A fiscalidade portuguesa atribui aos combustíveis, uma parte fixa (impostos sobre produtos petrolíferos) e outra variável (IVA a 21%). Será esta última aquela que mais beneficia as receitas do estado porque quanto mais caro é o combustível mais IVA é facturado.
O que se passa afinal com o petróleo? Há falta deste produto no mercado?
“Não há falta de petróleo. Há a convicção de que ele pode vir a faltar”. A subida em flecha dos preços do crude pode ser explicada com esta simplicidade. A crescente procura dos países emergentes, as tensões geopolíticas, a desvalorização do dólar e como não poderia deixar de ser a especulação dos mercados são os factores que explicam a crise.
Só para se ter uma ideia, a especulação representa mais de 20% do preço actual do barril de crude que anda perto dos 120 dólares em Nova Iorque.


Mas afinal o que é a especulação de que tanto se fala?


É a parte financeira da questão. Os fundos de investimento estão ávidos em criar mais-valias financeiras aos investidores, depois da crise americana no investimento imobiliário que se revela agora de alto risco. Apostam por isso em reforçar os bens mercantis, como alimentos e petróleo, condicionando artificialmente os preços destes bens. A especulação não irá dar tréguas enquanto o dólar se mantiver fraco, o que nos faz ter poucas esperanças do barril voltar a ter preços abaixo dos 100 dólares.



Até quando o governo irá fazer de conta que nada se passa?


Sendo os combustíveis uns dos factores de produção mais importantes para a generalidade da economia, torna-se incompreensível a atitude do governo português que prefere continuar a obter acréscimos sucessivos na receita, através da cobrança do IVA sobre os aumentos do preço impostos pelas gasolineiras, ao invés de baixar o imposto sobre os combustíveis.
Com esta forma de governar, lá se vai arranjando mais uns balões de oxigeno para salvaguardar o défice, não vá aparecer mais algumas despesas de última hora, fazendo de conta que aqueles que vão criando ainda alguma riqueza neste país, estão sólidos que nem uma rocha e que a economia vai de vento em popa.


Serrone, dia 4 de Maio de 2008

A crise dos alimentos

Nenhum dos países do globo está a salvo, porque ninguém pode deixar de se alimentar. É claro que serão os países mais pobres os que mais irão sofrer com esta crise, desde há muito anunciada, mas ignorada principalmente por todos aqueles que tinham o poder e a obrigação de a evitar: os países mais ricos e poderosos da Terra.
Mais de metade da população mundial (mais de 3 mil milhões de pessoas) vive com menos de dois dólares por dia para comprar alimentos. Os pobres gastam 80% a 90% do seu rendimento na alimentação, os ricos apenas gastam 10 a 20%. Estes números fazem toda a diferença. A fome atinge hoje 854 milhões de pessoas, número que poderá aumentar rapidamente para mil milhões devido à crise alimentar que estamos a assistir.
Um economista da Universidade de Chicago, citado pela revista o Economist, revelou que o aumento de um terço no preço dos alimentos reduz em três por cento o nível de vida nos países mais ricos e em 20% nos mais pobres.
Nesta primeira década do século vinte e um, estão criadas as condições para se acentuarem ainda mais as desigualdades entre países ricos e pobres. Em alguns países em desenvolvimento a falta de alimentos e a fome geram protestos crescentes que agudizam as relações entre governos e populações, levando estes últimos a fechar as exportações num cenário de escassez de oferta.
Na zona Euro a variação homóloga dos preços dos alimentos em Março deste ano relativamente ao igual período do ano transacto, sofreu um acréscimo de 3,6 pontos percentuais (de 2,6 para 6,2).

Preços dos alimentos na Europa poderão subir 39% este ano.

Segundo a Comissão Europeia, em vez do aumento médio de 10% previsto em Outubro último, as provisões apontam agora para um aumento médio na ordem dos 39%.O pior irá passar-se no segundo semestre deste ano, prevendo-se para este período um salto homólogo superior a 54%.
As razões apontadas pela Comissão Europeia: aumento da procura destes bens na China e na Índia e o papel cada vez maior de factores temporários, como a especulação nos mercados e as alterações climatéricas.

Mas afinal. o que está por detrás da crise?


-Agricultura abandonada devido a um desinvestimento de décadas neste sector na generalidade dos países do mundo.
-Décadas de preços artificialmente baixos e mercados distorcidos.
-Procura crescente por parte das economias emergentes, encabeçadas pela China e pela Índia, devido ao aumento do nível de vida daquelas populações.
-Subida dos custos de produção por causa da subida do barril de crude nos mercados.
- Procura crescente dos cereais para produção de etanol (bio-combustível).
-Baixa do preço do dólar.
-Muita especulação nos mercados de transacção.


As alterações climáticas


O clima é outro fator que reduziu a quantidade de alimentos produzida no mundo, segundo relatório da ONU divulgado recentemente.
As condições climáticas desfavoráveis devastaram culturas na Austrália e reduziram as colheitas em muitos outros países, em particular na Europa, segundo a FAO.
Segundo as previsões da FAO, as reservas mundiais de cereais caíram para o seu nível mais baixo em 25 anos com 405 milhões de toneladas em 2007/08, 5 % (21 milhões de toneladas) abaixo do nível já reduzido do ano anterior.


Especulação dos mercados


"Só os fundos de investimento em matérias-primas cotados na bolsa de Chicago controlam um valor recorde de 4,5 mil milhões de galões de trigo, milho e soja, ou seja, metade do total armazenado nos silos norte-americanos. Os investidores aceleraram as compras de cereais em 29% em 2007, como forma de compensar as perdas nos mercados accionistas e no dólar, decorrentes da crise do ‘subprime’. " A especulação veio agravar a pressão já existente sobre os preços, justificada inicialmente por causas estruturais. Os economistas estimam que os preços dos alimentos dificilmente poderão retornar aos valores de 2005 e que pelo menos durante a próxima década a crise se poderá manter.

O aumento galopante dos preços do petróleo e a crise dos alimentos são identificados como o maiores factores de risco para a inflação da zona euro.

Mas infelizmente em vias de desenvolvimento, a factura a pagar será maior. "No Bangladesh, por exemplo, mais de 500 mil militares passaram a comer batatas para diminuir a procura por arroz e trigo; no Egipto, em Marrocos, no Peru ou no Haiti os governantes enfrentam motins e protestos populares contra a escassez de alimentos básicos."Estamos a assistir a um fenómeno global ao qual ninguém deverá e ficar indiferente. Num futuro imediato mais de cem milhões de pessoas correm o risco de pertencer ao grupo dos seres humanos que passam fome e que correm risco de vida.

Como eu admiraria os governantes poderosos deste planeta, se tirassem dos orçamentos de defesa verbas avultadas para ajudar aqueles que mais precisam, independentemente da sua raça, crença religiosa ou cor política.

Serrone, 4 de Maio de 2008