quinta-feira, 5 de junho de 2008

Travar a especulação


A especulação internacional financeira “altera” de forma propositada as regras de mercado de modo a criar altos rendimentos aos investidores. Embora, sempre tenham ocorrido práticas especulativas nos mercados internacionais, temos assistido recentemente a um crescimento sem controlo de investimentos de capitais em matérias-primas, em detrimentos de investimentos mais tradicionais, designadamente em fundos imobiliários.

Procuram-se obter avultados e sucessivos lucros financeiros no mais curto espaço de tempo, tirando-se o maior partido possível da inflação gerada.
Compra-se o produto a um preço dito “de mercado” e, depois não se tem que esperar muito, porque o ciclo inflacionário em curso leva à procura desenfreada e a novas subidas do preço. Basta por isso escolher o momento da venda que for mais lucrativo e que permita disponibilizar novos recursos financeiros para uma nova aplicação.


O que acabo de referir está a passar-se a nível global com o petróleo, com o arroz e com o milho. Grandes investidores de todo o mundo deliberadamente e por ganância, estão a investir avultadas somas nestas matérias-primas e a provocar a turbulência nos mercados, desvirtuando as leis da oferta e da procura. Muitos deles são precisamente os fundos que perderam fortunas com a crise do suprime e que agora querem recuperar das perdas.


Só que estes produtos não são prédios mal alicerçados em dólares em crescente instabilidade. São produtos de uma importância estratégica inquestionável para o mundo, sendo que, os cereais, tais como o arroz e o milho se constituem como a base da alimentação daqueles que vivem na pobreza extrema. Também a subida do preço do petróleo está a levar as economias de todos o mundo a um abrandamento e a uma crise económica global. Quando isto acontece, nos países em desenvolvimento, ou mesmo ricos, são as populações mais pobres e com menos recursos que sofrem mais.

Será tudo isto uma consequência da liberalização dos mercados? Claro que não. Lamento desiludir quem porventura estaria à espera de uma minha manifestação antiliberal.

Mais uma vez, o problema não está na base das políticas macroeconómicas, mas sim na falta de vontade e de capacidade dos governos dos países mais poderosos em actuar atempadamente nos mercados. Muitos dirão que será demasiado complicado agir, ou que será impossível fazê-lo. Resignam-se à má sorte, adoptam políticas internas desajustadas que até podem agravar a crise, ou simplesmente ficam à espera que aconteça um milagre que inverta a tendência do ciclo económico. Outros ainda irão aproveitar a ocasião para querer ressuscitar e justificar ideias de totalitarismos e politicas de esquerda socialista, há muito falidas.
Meus amigos, a palavra certa, a "ideia chave" que poderá travar a especulação é regular. Regular os mercados e punir severamente os infractores. Regular não é intervir para alterar as leis de mercado. É precisamente o contrário, intervir para fazer cumprir as leis de mercado, para que estes possam funcionar livremente sem o espectro da especulação. Comprará quem precisa e venderá quem tem para vender matérias-primas de primeira necessidade para o mundo.

Se os poderosos deste planeta, os G7 e todas as organizações internacionais com responsabilidades estratégicas no equilibrío económico e social das nações, FMI, Nações Unidas e outras, não tomarem a iniciativa de REGULAR e PUNIR os infractores, restabelecendo a ordem económica/financeira mundial, iremos assistir a uma crise global sem precedentes, porque a globalização que ajuda a distribuir riqueza, mais facilmente e rápidamente irá contribuir para o aumento da pobreza e da desagregação e colapso do tecido social já débil.

Serrone